quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Asas

Meu coração criou asas.
Saiu voando ligeiro
leve,
fugiu do meu peito.
Simplesmente
surgiu nele um par de asas
e meu coração fugiu
sumiu;
sentiu-se liberto
das veias, artérias, carótidas
que faziam chegar até ele
meu sangue ácido,
pesado, carregado de sentimentos.
Meu coração criou asas!
Justo ele que vivia oprimido
apertado, agoniado
aqui dentro de mim!
Foi-se embora por aí
voando, voando sempre
para bem longe dessa
caixa estreita, claustrofóbica
para algo tão grande feito ele...
Voou para o mundo
e a essa hora deve
estar dando rasantes,
fazendo piruetas no ar
com seu belo par de asas.
E eu
fico aqui.
Com um buraco no peito.
E o sangue enregelando,
endurecendo,
coalhando
Por falta de movimento.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Rimas de criança

Inimigos pensamentos
Não me tragam mais tormentos
Raios, tempestades, ventos
Parem com os maus intentos!

Me devolvam a liberdade
Nem se for por caridade
Dívida de lealdade
Antes que eu perca a sanidade...

Pare que não agüento mais
Duro pensamento sagaz
Deixe-me só dormir em paz
Sonho tranqüilo, fugaz.

Deixe quieta essa paixão
Sentimento forte e vão
Que domou com uma mão
Mente, corpo e coração!

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Poema em 6 minutos

Desejo escrever o que sinto
Verbalizar o nada
Expressar o medo
Mostrar a tristeza.
Preciso exprimir a dor
Expurgar a angústia,
Banir a desolação
Compartilhar o rancor.
Mas não posso.
Não tenho tempo...
Tudo o que disponho
São de seis míseros minutos!

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Epístola de Santa Lídia Dos Pés Cansados


A distância entre mim
e o mundo
É descomunal.
Injusta e invariavelmente grande.
Meus pés estão esmagados,
vermelhos e ensangüentados.
Como duas rosas amassadas. Vermelhas. Murchas.
Por isso não consigo mais correr.
Não consigo te alcançar.
Pés tão cansados que me impedem até
de sonhar que estou te seguindo
para algum lugar e
O desânimo é tão grande,
tão imensuravelmente grande que
me perco dentro dele.
Meus pés não me levam a lugar algum.
Estou paralisada de cansaço.
Sozinha. Vazia. Inerte.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Solvente Universal

A Humanidade é cruel em seu intento
E a imundície é plantada em uma horta.
As pessoas cultivam seu tormento
A lama é podre; a história morta.

O ar não é mais ar é um narcótico
O estado de nossas almas é caótico
Ninguém é Alguém, apenas um estereótipo
Tudo é falsidade, efeito óptico.

Alguns ainda clamam por esperança
Mas os espíritos estão tomados pela vileza
Em nenhum átomo existe a confiança

A vida é encarada com extrema crueza.
Como poderíamos acreditar na bonança,
Se idolatramos e vivemos a torpeza?

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Às Vezes

Às vezes,
Quando consigo ficar sozinha
Comigo mesma, parece que o mundo e eu somos um só.
Começa devagarinho e eu vou me expandindo,
Expandindo e cada átomo do mundo é
Cada átomo do meu corpo. Me expando tanto que
Parece que vou explodir, arrebentar.
Depois de milésimos de segundos isso passa
E eu
Me olho como sou: vazia e sem esperança.