sábado, 4 de junho de 2011

Fim

Anos depois
tropeço em um objeto
atravessado em meu caminho.

Espio desconfiada,
é um espelho.
(Espelhos sempre me amedrontaram)

Resolvo encarar de frente
e o que vejo?
Nada!
Grito
e não escuto som algum.

Eu não sou mais eu:
perdi a capacidade
de manipular palavras.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A mulher de sépia

Envelhecida de um cansaço
marrom-avermelhado,
afugento todos
que ameaçam.
Dentro da bolsa
guardo armas
que trago dos mais profundos oceanos.
Nem raios
nem ventos,
- tal qual a pequena Siba -
possuo tinta
e veneno.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Para Clarice

Uma galinha tem, encrustado em sua cabeça seca, o olhar pasmo de quem não sente medo porque não entende.(Tenho me sentido com cara de galinha ultimamente.)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Violência poética

Sonhei que
versos apoderavam-se de mim,
retiravam-me da cama e
arrastavam-me escadaria
abaixo.
Era uma
multidão de versos
fortes que se enfiavam
através de minhas
pálpebras enquanto
carregavam-me
para longe.

(Eu sangrava)

domingo, 13 de setembro de 2009

Explicamento

Porque o meu corpo
é, todo ele, uma
indagação,
eu acordo e
me abro em questões.

O sol me toca e
eu floresço em perguntas,
brotando como espinhos
que arranham o vento.

Sou uma interrogação
que se arranha -
Sem resposta.

sábado, 29 de agosto de 2009

O Pica-vidro

Cativa de meus paradoxos
surrealistas,

acordo de manhã
com um Pica-pau picando
o vidro reluzente de minha janela.

Vai ver o bicho é
um passarinho high tech:
cansou da madeira,
quer tremeluzir
no mundo sintético.

Transmutou-se em Pica-vidro.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Blefe

Finjo que faço, finjo que sou.

Descarada,
me disfarço com a cara dos outros.

(Estou enovelada na tríade do verso,
inverso, reverso).

O cansaço
comeu todas as minhas cosmogonias.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Aniversário num bar:

E eu tentava colocar a minha máscara de 'estou sendo simpática', mas ela escorregava e caía do meu rosto o tempo inteiro sem que eu pudesse fazer nada para segurá-la. Uma hora saiu do lugar bruscamente e espatifou-se no chão, felizmente sem nenhum estrondo, de maneira bastante discreta. Encontrei-me totalmente embaraçada, nua, com cara de nada. Sem saber qual máscara colocar no lugar peguei a primeira que me apareceu, e pendurei no rosto a minha cara feia de 'quero ir embora'. Era a melhor saída, fugir dali e esconder bem depressa o meu vazio.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Pseudosinestesia

Quero beber a eternidade em um copo de cristal
que se partirá em minhas mãos
desfazendo-se em milhares de cacos
cortantes.
O sangue que escorrer das minhas feridas profundas
eu o beberei também,
sorverei com a sede de sete dias
o sangue de aço sabor ferrugem.
Quero beber a claridade do dia,
esta que vem descendo deslizantemente
como lâmina.
Ela atravessará meu corpo ao meio
partindo-me em duas metades gêmeas,
condizentes. A luz é dura.
Quero beber a noite, as nuvens negras,
ser engolfada pela escuridão
e beber até a embriaguez, até o afogamento
em mim mesma. No universo.
E quando eu finalmente puder
beber da açucarada calda de um cometa,
serei arrastada para fora do planeta
e beberei diretamente do sol.

terça-feira, 31 de março de 2009

Lagridor

A dor cresce,
aperta-me o estômago
e fere os pulmões,
sufocando-me covardemente.
Sobe à garganta,
as paredes se contraem
forte e maldosamente.
Engasgo
com o pouco de saliva restante
em minha boca
ressequida.
A dor faz com que
meu rosto inteiro queime,
como se por baixo da pele existisse
fina camada incandescente.
Minha cabeça cresce como se
necessitasse explodir,
como se a testa estivesse a ponto de
ser arremessada a metros,
muitos metros de distância.
- As têmporas latejam
lamentavelmente -
A dor é senhora de mim,
habita o fundo dos meus olhos
que agora ardem desmedidamente
e então ela brota,
flui através deles,
pesada,
salgada,
escorre morna pela minha face
e retorna ao meu corpo
me afogando.